Em consonância com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU), uma mesa redonda “Reaproveitamento de águas cinzas, uso sustentável em áreas urbanas e rurais” foi realizada nesta quinta-feira, 5 de outubro, último dia do 34º Encontro Técnico AESabesp (Congresso Nacional de Saneamento e Meio Ambiente) e Fenasan 2023 (Feira Nacional de Saneamento e Meio Ambiente).
O maior evento de saneamento e meio ambiente da América Latina. é uma realização da Associação dos Engenheiros da Sabesp – AESabesp, com co-coordenação da Associação dos Especialistas em Saneamento – AESAN. Esta edição aconteceu de 3 a 5 deste mês, no Expo Center Norte, em São Paulo, com o tema central “Saneamento Ambiental na Globalização do Desenvolvimento Sustentável”.
A coordenação e mediação desta mesa foi da engenheira Sonia Nogueira, membro da Comissão Organizadora do evento. Participaram da discussão Juliano Mudadu, engenheiro ambiental e sanitarista pela Universidade Federal de Lavras (UFLA), Adriano Luiz Tonetti, professor da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e Luciano Zanella, engenheiro pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT).
O debate teve uma troca de conhecimento sobre estudos desenvolvidos acerca do tema por universidades, centros de pesquisas e novas normas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). “Nessa mesa podemos ver, na prática, a famosa frase de Lavoiser: ‘na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma’. Neste sentido, o debate é importantíssimo de se ter aqui nesse encontro”, destacou Sonia Nogueira.
O recurso hídrico é visto como potencial na agricultura, segundo o engenheiro ambiental Juliano Mudadu. Ele aponta que, com o reúso da água cinza, haverá uma série de benefícios como a economia de água potável, a proteção à recursos hídricos, a recarga de águas e uma agricultura familiar mais resiliente.
“A água cinza deve ser vista como alternativa de água não potável”, afirmou. Mudadu teve como objeto de estudo a prática e aceitação da água de reúso no estado de Minas Gerais. Ele aponta que a aceitação na agricultura é um desafio. Com uma pesquisa feita nas diversas regiões do estado, ele concluiu que há uma aceitação de mais de 80% do uso da água cinza na agricultura, como recurso hídrico alternativo. Por outro lado, há uma rejeição de quase 40% em consumir os produtos oriundos de irrigação com água cinza. Por fim, ele explicou que a aceitação de políticas públicas relacionadas a esse tema está ligada, diretamente, à falta de abastecimento, ao tratamento e à baixa renda das populações pesquisadas.
O professor Adriano Luiz Tonetti apresentou um estudo de uma área rural da cidade de Campinas/SP. Ele afirmou que a população rural no Brasil ainda é 16% do total, ou seja, o equivalente a 30 milhões de pessoas, igual à população do Chile. Segundo ele, existe um desafio no saneamento na área rural. “A tecnologia avançada é interessante, mas não responde aos desafios apresentados, já que a população tem seus próprios conhecimentos e isso deve ser valorizado”, avalia. Em seu estudo, feito com uma equipe de pesquisadores e estudantes da Unicamp, destaca-se “as soluções desenvolvidas pelas próprias comunidades, já que o morador deve fazer parte da construção de uma solução viável, que se adapte a sua realidade”. Por fim, Tonetti mencionou sites para aprofundamento do tema: Saneamento Rural – Unicamp (acesse aqui) e a Revista DAE (acesse aqui).
O Manual de Aproveitamento Emergencial de Água Cinza, desenvolvido em 2016, foi apresentado por Luciano Zanella. Em um contexto de crise hídrica que a região metropolitana de São Paulo atravessou, a publicação buscava conscientizar e divulgar as técnicas sobre uso de água cinza, com uma linguagem fácil e didática para toda a população. “É sim possível ter reúso das águas de máquina de lavar e do banho para descarga de vaso sanitário”, exemplificou.
No debate com o público, foram abordados os desafios para a implementação de uso de águas cinzas em sistemas já existentes e a importância da participação no desenvolvimento de normas legais ABNT, para respeitar as regras delimitadas por órgãos de controle, e de como isso é importante para viabilizar a ampliação do uso de águas cinzas. “Eu reafirmo que é fundamental participar da edição das normas, para que tenhamos normas razoáveis e com bom-senso”, indicou Zanella.
Confira o álbum de fotos do evento
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