As práticas ESG e sua relevância no setor foram tema de painel com especialistas das principais financiadoras que atuam no mercado brasileiro, nesta quinta-feira, 5 de outubro, último dia do 34º Encontro Técnico AESabesp (Congresso Nacional de Saneamento e Meio Ambiente) e Fenasan 2023 (Feira Nacional de Saneamento e Meio Ambiente).
Promovido pela Associação dos Engenheiros da Sabesp – AESabesp, com co-coordenação da Associação dos Especialistas em Saneamento – AESAN, de 3 a 5 deste mês, esta edição trouxe como tema central “Saneamento Ambiental na Globalização do Desenvolvimento Sustentável”.
Com coordenação de Ester Feche, diretora Socioambiental e Cultural da AESabesp, e moderação de Virgínia Tavares Ribeiro, superintendente de ESG da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), a discussão abordou investimento, financiamento e desenvolvimento de projetos com foco em Environmental, Social and Governance (ESG) para a área de saneamento.
Para apresentar os mais recentes mecanismos de governança, impulsionamento de práticas ESG e seus desafios para o setor de saneamento, participaram do painel Luzia Hirata, responsável pela área ESG do Santander Asset Management, Frederico de Mariz, head de ESG Advisory para UBS in Latin America – UBS Global Banking, e Luisa Vasconcelos, head de Negócios ESG do Itaú BBA.
Segundo Ester Feche, os especialistas são representantes de algumas das maiores entidades, que avaliam o tema com referência no país. “Nós queremos que todos os profissionais do saneamento possam se envolver nesse importante momento, para conhecer melhor, por exemplo, como aqueles potenciais investidores e financiadores dos nossos projetos estão nos avaliando nas práticas ESG”, analisou.
Os temas ambientais, sociais e de governança têm chamado muita atenção nos últimos anos e estão no centro do debate, principalmente no período da pandemia e no pós-pandemia, segundo Luzia Hirata. “Muitos relatórios globais e locais apontaram para o risco de escassez hídrica. O recurso água é um bem muito valioso e qualquer empresa na área se torna muito importante, pois ela vincula a uma demanda social, um aspecto ambiental”, explica. Hirata também reforça que o setor de saneamento traz muitos benefícios para o mundo, diferente de outros que trazem danos à sociedade e ao meio ambiente. Em seu contexto, como gestora de recursos, ela engloba a saúde financeira e os elementos sociais, ambientais e de governança para apontar quais empresas se destacam e quais têm potencial de crescimento, além do retorno financeiro, retorno ambiental e social.
São indicados três temas de suma importância por parte de Frederico de Mariz. O primeiro, a governança, “o conjunto de regras que rege a organização, para gerir conflitos e políticas da empresa, para solucionar problemas da empresa”, pontua. O segundo tema é o das reformas: o “Green Deal” (Pacto Ecológico), que é um conjunto de propostas, de uma agenda de estado, que mudará o jeito que os mercados vão enxergar o ESG. Um exemplo citado por ele é da Taxonomia Sustentável Brasileira, que no Brasil será diferente da Europa, com sua definição do que é social e ambiental, que é importante para atrair investimento estrangeiro. O terceiro tema é responder: “Como fazer a conta entre o social e o financeiro, como é a relação entre o ESG e os ganhos financeiros?”. Segundo Mariz, é preciso “deixar na cabeça do investidor um retorno financeiro com ESG, para atrair dinheiro estrangeiro para isso, porque não haverá como suprir a demanda brasileira de infraestrutura sem o dinheiro estrangeiro”.
Mudanças e transformações do setor foram apresentadas por Luisa Vasconcelos. Segundo ela, a partir do fim da última década, o ESG passou a se tornar presente em cada um dos departamentos, na linha de frente. “Ele agora está no core do negócio”, resume. O tema é completamente transversal, perpassa inúmeras áreas, o que o torna algo complexo, mas por outro lado é uma agenda colaborativa. Ela reforça que os desafios dessa agenda não serão solucionados por uma pessoa sozinha, mas sim por um trabalho conjunto, juntando expertise.
Luisa indicou que há o compromisso de destinar R$ 425 bilhões até 2025 para negócios de impacto positivo, sendo que a área de saneamento está contemplada nessa carteira de investimentos. Além disso, também é compromisso o “Net Zero”, com foco na descarbonização, em uma agenda climática para redução da emissão de gases de efeito estufa. Ela também citou o próprio desenvolvimento de um rating ESG. “É preciso haver mais metodologias para essa área”, afirma. Por fim, ela apontou que foi recém lançado o arcabouço de títulos sustentáveis do Brasil, que poderá fazer diferença no setor de saneamento.
A moderadora Virgínia Tavares Ribeiro complementou que, no seu trabalho, em relação à Sabesp, há uma agenda ambiental baseada na visão externa. O saneamento tem impacto na cadeia inteira, em todas as suas atividades. Virgínia reforçou que o Brasil está em estágio diferente dos países mais desenvolvidos e que precisa dar respostas diferentes a isso, adaptadas à realidade local.
Ao final, na visão de perspectivas futuras, Luzia Hirata indicou que vê com bons olhos os fundos de infraestrutura e falou da importância da transparência das empresas, para que se olhe para o setor com confiança. Frederico de Mariz ressaltou que na área de saneamento, uma obra bem pensada, com governança, irá atrair investimentos. Luisa Vasconcelos apontou que é necessário um trabalho conjunto, colaborativo, e que é preciso mais recursos para esse setor, em que os atores precisam se juntar para tirar as ideias da mesa.
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