A segunda edição do Encontro das Universidades, um espaço dedicado a debater inovação tecnológica, a atuação da academia e a capacitação profissional no setor de saneamento, foi parte integrante da programação do 36º Encontro Técnico AESabesp e Fenasan 2025, que aconteceu entre 21 e 23 de outubro, no Expo Center Norte. A iniciativa, coordenada por Ester Feche, diretoria Socioambiental e Cultural da AESabesp, com apoio de Israel Pacheco, membro da Comissão Organizadora, foi aberta com a apresentação do tema “Reúso Urbano e Circularidade nos sistemas de Água e Saneamento: Referências comparativas e desafios”, no dia 22 de outubro. Dividido em partes 1 e 2, a mesa redonda debateu o reúso urbano e a circularidade, com destaque para a regulamentação, planejamento e ações institucionais em São Paulo e seus reflexos em outros estados.
Considerado um tema de alta relevância técnica e institucional, esta primeira etapa contou com moderação de Ester Feche e Cristiano Kenji Iwai, subsecretário de Recursos Hídricos e Saneamento Básico da Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (Semil). Participaram na qualidade de palestrantes Eduardo Mazzolenis, especialista da Diretoria de Controle e Licenciamento Ambiental da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb); Juliana Collaço, chefe da assessoria técnica da Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de São Paulo (Arsesp); e Eduardo Leo, coordenador de Sistemas de Informações da Agência de Bacias PCJ – dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí. Os debates se concentraram na visão institucional e regulatória sobre a circularidade hídrica, fundamental no atual cenário de escassez.

Eixo institucional e segurança hídrica
O subsecretário Cristiano Kenji Iwai, da Semil, ressaltou que a primeira parte do encontro priorizou uma abordagem institucional, envolvendo órgãos reguladores e a Agência de Bacias PCJ. O foco inicial foi em contextualizar a circularidade sob a perspectiva regulatória. “Nosso objetivo foi mostrar a questão do contexto de circularidade, sobre a visão do órgão regulador, a normatização, a regulação que já existe, o que está sendo pensado e trabalhado.”
A Agência PCJ trouxe uma perspectiva local, reforçando a intenção de mostrar o planejamento que o organismo já tem. “Este modelo é uma referência, em termos de planejamento de bacias do Estado e mostramos o desafio que nós temos para avançar nesse tema no Estado e a importância que existe nessa circularidade para garantir a segurança hídrica do Estado de São Paulo”, completou Cristiano.

O conceito de Circularidade foi detalhado pelo executivo. “Ela abrange todo o ciclo, uso da água, da importância de trabalhar, vamos dizer, desde redução de perdas e, principalmente, essa discussão do reúso de água mesmo, também para voltar a água para o ciclo do uso humano, seja o uso não potável, seja o uso potável”, salientou.
Para o representante da Semil, o debate é oportuno diante do cenário que nós vivemos hoje, com períodos de estiagem, que vêm se agravando, com muitas ocorrências em função até das mudanças climáticas. “Isso reforça a necessidade de nós nos adaptarmos, antever as nossas ações para garantir a segurança hídrica da população”, comentou.
Ele frisou ainda o engajamento da Semil, confirmando a existência de programas voltados ao saneamento do estado para atingir as metas de universalização. “Tais ações incluem a redução de perdas, da melhoria do serviço de abastecimento, não intermitência e pensando nas formas que a Semil pode trabalhar o reúso dentro dessa cadeia”, pontuou.
Regulação e as expectativas para o futuro

Juliana Collaço, da Arsesp, destacou o alinhamento institucional para lidar com a escassez hídrica, descrevendo a discussão como muito interessante. “Foi uma discussão muito técnica, em torno da circularidade que é necessária e o nosso posicionamento, principalmente no cenário de escassez hídrica”, contou.
De acordo com ela, a pauta técnica envolveu a maneira como regulamentar e implementar tecnologias de reúso – seja direta ou indireta – pode melhorar a disponibilidade hídrica de regiões metropolitanas como a Grande São Paulo, Campinas e Baixada Santista. “Existe um diálogo, uma integração muito maior entre os órgãos de Estado e os órgãos de governança no território, portanto, o painel estava muito bem estruturado, porque todos os palestrantes estavam muito alinhados com os mesmos desafios que cada um vivencia na sua competência”, observou.A Arsesp já planeja o futuro, informando que a agência reguladora está incluindo na agenda regulatória para o ano que vem, entre 2026 e 2027, começar a estudar as formas de reúso que podem ser reconhecidas dentro do serviço público de abastecimento de água e formas de incentivar devido às limitações que temos de disponibilidade hídrica. “As expectativas neste setor são muito boas”, observou.
O papel essencial do licenciamento ambiental


Eduardo Mazzolenis, da Cetesb, trouxe a experiência da agência, focando no papel do licenciamento ambiental na gestão do reúso de água. O objetivo de sua participação foi “trazer um pouco da experiência, dos desafios que a agência sente e observa para compartilhar com um público que é muito especializado”.
Ele enfatizou que o vínculo entre reúso e licenciamento é total: “O reúso de água no estado de São Paulo é licenciado. O licenciamento é essencial para a gestão hídrica, uma vez que é importante ter uma regulação sobre essa prática de reúso, dependendo da modalidade do reúso, para estabelecer regras, muitas vezes em conjunto com os outros órgãos. Então, sim, é algo profundamente envolvido com o trabalho da Cetesb”, confirmou.
Mazzolenis destacou o papel da agência não apenas em regular, mas também em participar com outros órgãos nos comitês de bacia para definir planos e diretrizes. A perspectiva para o avanço do tema é “muito positiva”, citando a criação de uma página na internet da Cetesb de Água de Reúso na qual é feita uma avaliação das normas disponíveis aqui no estado de São Paulo e outras normas, incluindo estaduais, municipais, internacionais e federais.
O conhecimento está sendo consolidado e disponibilizado ao público, o que, segundo ele, é essencial para um assunto muito especializado, que exige que ouçamos muito os técnicos e outros setores. O otimismo se estende ao cenário nacional, onde a Cetesb integra um GT entre o Conama e o CNRH, para avançar na regulamentação. “Acredito que a experiência que a Cetesb também está levando em nível nacional vai ajudar nessa discussão para consolidarmos e avançarmos no tema. É um tema que ainda tem muitos passos a serem dados”, finalizou.
Tecnologias para reúso de água

O foco da segunda parte da mesa redonda “Reúso Urbano e Circularidade nos sistemas de Água e Saneamento: Referências comparativas e desafios, realizada dia 22 de outubro, foi a implementação do reúso de água pelas operadoras de saneamento e o papel da academia no processo, destacando abordagens sobre implementação, tecnologia e a perspectiva internacional com participações de Tadeu Fabrício Malheiros, Professor da FSP – Faculdade de Saúde Pública /IEA – Instituto de Estudos Avançados/Universidade de São Paulo – USP, na qualidade de coordenador e moderador; e os palestrantes Marcel Sanches, Superintendente de Engenharia e Planejamento da Sabesp – Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo; Giuliana Caroline Talamini, gerente de projetos e sustentabilidade da GS Inima; e Francis Lajara De Los Reyes III, Professor da Universidade Estadual da Carolina do Norte – NCSU, nos Estados Unidos. Os especialistas destacaram que as tecnologias para reúso de água são eixos centrais para avançarmos na segurança hídrica brasileira.
Tadeu Malheiros explicou que, enquanto o primeiro painel se concentrou na perspectiva da regulação, mostrando como se criam as normas e se dá a governança para implementação de ações mais voltadas para reúso, o segundo painel trouxe a visão prática. “Este painel destacou duas operadoras de saneamento, mostrando como elas estão implementando ações ligadas ao reúso, os desafios que enfrentam para fazer esse processo, mas também as vantagens e resultados positivos conquistados”, contou.
Complementando o debate, a terceira palestra contou com a participação de um especialista da Universidade Estadual da Carolina do Norte (NCSU), parceira da USP. “O pesquisador Francis Lajara De Los Reyes III apresentou um pouco a perspectiva internacional no contexto dos Estados Unidos e trouxe essa questão do papel da Universidade no desenvolvimento de inovações”, apontou.

Malheiros frisa que a academia é fundamental para “ajudar nesse processo de transição de um sistema mais intensivo em água para um sistema mais intenso em reúso de água. Para isso, é preciso ter gente preparada e precisa de tecnologia, é nesse aspecto que o papel da universidade colabora nesse processo”, observou.
O professor demonstrou grande expectativa em relação ao fomento da discussão e à ampliação do uso do reúso no Brasil. Ele citou exemplos práticos que foram apresentados pelas operadoras: “alinhado com a primeira mesa, nesta segunda pudemos ver uma das empresas, que é a GS Inima, com vários projetos de reúso, principalmente ainda com grandes usuários e empresas”, informou.
Em relação à Sabesp, ele observou o contexto da desestatização: “A Sabesp está no processo de privatização que trouxe uma série de metas que eles vão ter que cumprir. Eles têm um histórico importante já de muitos anos de atuação, então a Sabesp é pioneira e mostrou como estão conduzindo essas novas metas, inclusive não só da universalização, mas também da parte de reúso, sob a perspectiva da companhia”, explicou.


A experiência internacional serve de referência. Malheiros mencionou a situação nos Estados Unidos, onde já se veem bastantes experiências de reúso da água tratada que voltam para a cidade utilizá-la em fins menos potáveis. “Já é uma cultura já bastante implementada em várias regiões lá”, destacou. O especialista expressou o desejo de ver essa prática mais presente no Brasil, apesar da muita resistência quanto à água de reúso, por conta do desconhecimento sobre suas vantagens e benefícios.
Ele ressaltou, no entanto, que o avanço exige mais do que apenas regulação: “precisa de investimento e precisa de capacitação. Ao mesmo tempo que eu regulo, eu preciso dar condições de que se tenha a capacidade de implementação. É essa provocação que trouxemos para essa segunda parte da mesa”.
Para Malheiros, este espaço dentro da Fenasan é inovador porque a Universidade estabelece diálogo com parcerias da área de Saneamento. “Essas demandas possibilitam novas pesquisas em produtos que tragam usabilidade para o segmento”, ressaltou.
No encerramento da segunda parte da mesa, Giuliana Talamini, gerente de projetos e sustentabilidade na GS Inima Brasil, expressou sua satisfação em integrar esta iniciativa. “Estou muito feliz por participar desse encontro. E também por apresentar soluções de reúso e nossos cases de sustentabilidade. Esperamos que essas soluções sejam implementadas e avancem no País”, afirmou.
Resiliência climática, cooperação global, pesquisa e tecnologia foram destaques no segundo dia do Encontro das Universidades
O 2º Encontro das Universidades trouxe, em seu último dia de trabalhos, 23 de outubro, o universo da academia e demandas do mercado de saneamento, com destaques para Bioeconomia e a divulgação do documento “Saneamento e mudança climática: Diretrizes aos prestadores de serviços de água e esgoto para o enfrentamento de eventos adversos – 3ª Edição”
O 2º Encontro das Universidades deu continuidade no terceiro e último dia do 36º Encontro Técnico AESabesp, dia 23 de outubro, consolidando-se como um espaço específico para discutir temas de inovação tecnológica do setor e os melhores contextos para atuação da academia, cursos técnicos e profissionalizantes, visando atender às demandas do novo modelo de saneamento.


Com a realização de quatro mesas redondas, o segundo dia de trabalhos iniciou com experiências de iniciativas globais e cooperação. Neste âmbito, a mesa redonda 3 apresentou as “Iniciativas Globais e Cooperação Internacional para o Saneamento Inclusivo do Futuro”, na qual destacou as boas práticas globais e oportunidades de cooperação e capacitação com o Brasil. Coordenada por Ester Feche Guimarães, diretora Socioambiental e Cultural da AESabesp, e moderada por Alisson Gomes, coordenador de Inovação da AESabesp, contou com Luiz Fazio, presidente da Bio Saneamento; Lylian Coelho, diretora de Desenvolvimento do Programa Executivo Internacional AgroParisTech – SUEZ para Água e Saneamento para CEO e GD na Ásia e África; Alexandre Anderaos, superintendente Adjunto de Regulação de Saneamento Básico na Agência Nacional de Águas – ANA; e Patrick Schindler, especialista em Relações Internacionais da Sabesp.

Em sua apresentação, Lylian Coelho, da Suez, comentou as oportunidades que tiveram na África, para fazer uma cultura de Saneamento Básico, por meio da qual conseguiram parceiros no continente. “É importante fazer capacitação, chegar aos líderes pela educação. Precisamos ter dados e soluções. E não é só focar no problema”, observou.
Ela ressaltou que a secagem do lodo para uso agrícola é um fato. A população aceitou muito bem. “Funciona assim: as urinas tratadas viram água (reúso ou potável), as partes sólidas viram composto nas pequenas comunidades rurais, para uso em plantações. Considero que a cooperação com a França, onde moro há muitos anos, avançou, em relação a outros países. Lá, avançamos; aqui também houve avanço. Precisamos criar pontes: a França precisa desmistificar o assunto; o Brasil precisa usar a Inteligência Artificial. A cooperação é de igual para igual. O Brasil pode ser uma alavanca neste âmbito”, avaliou.

Para Luiz Fázio, da Bio Saneamento, em áreas mais vulneráveis, a chance de sucesso é maior com a participação de todos. “É preciso envolvimento, escuta. As populações mais adensadas precisam estar engajadas. Porém, precisamos diminuir os gastos. Vale lembrar que para a construção de casas populares são desmatados cerca de 260 mil hectares de área verde: um risco para os veios d ‘água. Necessitamos de financiamento”, lembrou.
Na visão de Alexandre Anderaos, da ANA, as parcerias são sempre importantes. “A questão hídrica deve ser uma agenda importante na COP30. Destaque para o saneamento rural. Nisso, a Cagece, no Ceará, tem um papel fundamental”, salientou.

Patrick Schindler, da Sabesp, informou sobre a Zona Azul da ONU na COP30, na qual haverá uma universalização da América Latina para o setor de saneamento e meio ambiente, que promoverá multiplicadores. “Nosso papel nos conduz a temas importantes, como a mitigação de problemas relativos a esgoto, saneamento, limpeza dos cursos d ‘água. A Sabesp faz uso na agricultura. O lodo é gás de síntese e pode ser usado como metanol, e é matéria-prima para vários usos, como na aviação, por exemplo. Na COP30 teremos atores do mundo inteiro engajados. Mitigação é o tema e os efeitos das mudanças climáticas vêm pela água. Leva-se dignidade para as pessoas que saem da exclusão. Estaremos lá, participando”, comentou.
O moderador Alisson Gomes chamou a atenção para o fato de que o saneamento é importante nos grandes centros. As “franjas”, locais que ficam nos arredores das cidades, são como comunidades rurais. Os governos não estão fazendo o suficiente. Por isso, as soluções precisam aliar sustentabilidade social e econômica. “Tem que subsidiar. Estou cético quanto à COP30, não se tem visão compartilhada. A urgência é maior agora do que a da Conferência Rio 92. A mudança climática já chegou”, alertou.
Pesquisa acadêmica e formação profissional

A mesa-redonda 4, “Pesquisa Acadêmica e Formação Profissional: Conectando Ensino e Mercado no Saneamento”, debateu a urgência da pesquisa e inovação. Coordenada e moderada por Nilton Moraes, da USP/AESabesp, contou com as palavras de Ester Feche, que nesta discussão participou na condição de diretora de Serviços de Água e Esgoto, Semil; Luana Pretto, presidente do Instituto Trata Brasil; e Luciano Zanella, professor dos programas de mestrado em Habitação e em Processos Industriais do Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo (IPT).
Em sua explanação, Ester Feche ressaltou problemas, como a falta de profissionais da área de saneamento. “Isso é um percalço. Há desafios porque vai se deixando a qualificação das pessoas para trás”, atentou.

Ela falou sobre o CCD (Centro de Ciência para o Desenvolvimento) Sanea Clima – Saneamento e Resiliência Climática, apresentando um resumo do plano de pesquisa. “O Terceiro Setor participou das pesquisas. A gente vai aprendendo também sobre as empresas públicas. No contexto geral, nossos centros urbanos são enormes, então colocamos soluções híbridas, tecnologias digitais e comunicação estratégica para apoiar políticas públicas de saneamento em cenários de crise”, detalhou.
Ester destacou que é importante desenvolver soluções inovadoras para o saneamento resiliente. “Nosso projeto foi aprovado na Fapesp. A metodologia teve abordagem interdisciplinar, têm diretrizes para planos resilientes e projetos-piloto, entre outros pontos. A implementação é para cinco anos, envolvendo cerca de 70 pesquisadores. O papel da Semil, portanto, é lançar desafios estratégicos também: eles são grandes nos âmbitos urbano e rural”, observou. A especialista, que é coordenadora do Encontro das Universidade, fez menção ao fato de que a Universidade é o lugar de escuta. “A inovação e a tecnologia são fundamentais. Precisamos ouvir as pessoas”, orientou.

Na sequência, Luana Pretto, do Trata Brasil, informou que houve uma melhora na bacia do Rio Pinheiros. Segundo ela, há geração de renda e emprego, após a expansão da cadeia de saneamento. E um dos pilares do saneamento básico é que, quando inadequado, surgem as internações por doenças respiratórias. O segundo pilar traz produtividade e geração de renda. A executiva lembrou que nas populações vulneráveis é comum a falta dos trabalhadores em seus respectivos empregos por questões de saúde. Para ela, os governos não estão fazendo o suficiente. “Também existe uma relação entre o pagar aluguel e o acesso à água: moradias com tratamento de água e esgoto adequados são mais caras: essa é apenas uma das questões econômicas que batem nesses contingentes populacionais. O custo social para as populações moradoras da Bacia do Rio Pinheiros, entre 2020 e 2022, chegou a R$ 17.043 bilhões”, apontou.
Para Luana, as questões não podem ficar apenas em debate nas universidades. “Precisamos de interconexões”, considerou.


Para Luana, as questões não podem ficar apenas em debate nas Universidades. “Precisamos de interconexões”, considerou.
Na concepção do professor Luciano Zanella, do IPT, o que falta é divulgar o conhecimento que a academia produz. “Por isso, estamos cada vez mais trabalhando em rede. A transferência de tecnologia é fundamental.
Alinhar expectativas e baixar os feudos é importante porque quando há parceiros privados existe um pensamento de que o desenvolvimento será privativo. Também falta marketing para o trabalho do pesquisador científico”, destacou o especialista.
Diretrizes e mudança climática

A mesa redonda 5 foi dedicada à divulgação do documento “Saneamento e mudança climática: Diretrizes aos prestadores de serviços de água e esgoto para o enfrentamento de eventos adversos – 3ª Edição”. Coordenado por Maria Aparecida Silva de Paula, coordenadora de Relações Institucionais da AESabesp, e Ana Rogers, editora da Revista Saneas/TV Água e Saneamento, e moderada pelo presidente da entidade, Agostinho Geraldes, o encontro contou com a participação de Alexandre Motta, presidente da Funasa; Antonio Miranda, consultor em gestão de serviços de saneamento e membro do comitê que produziu o documento; Fernanda Rodrigues de Morais, consultora Jurídica da AGU junto do Ministério das Cidades; e Liliani Cafruni, membro da Câmara Técnica Gestão Ambiental e Mudança de Clima – Aesbe – Associação Brasileira das Empresas Estaduais de Saneamento.
O documento, formulado pela parceria entre Aesbe e AESabesp, foi distribuído e explicado em sua metodologia, propósitos e conteúdo fundamental.


O presidente da AESabesp, Agostinho Geraldes, deu início ressaltando que eventos severos afetam diretamente as prestadoras de serviços. “Por isso, as mudanças climáticas nos levam à importância de criar um documento como esse”, disse.
Fernanda Moraes, do Ministério das Cidades, informou que a autarquia tem trabalhado com atenção em relação às alterações climáticas. O custo social tem sido muito alto. “Precisamos observar também as questões orçamentárias. Três vertentes para o enfrentamento das cidades. Fizemos 7.217 alterações, 1.200 contribuições para esse documento. Para as próximas discussões teremos adaptações climáticas e hídricas. O saneamento básico é assunto central, e na COP30 teremos a segunda maior delegação, visto a importância da temática. A questão urbana de saneamento é para 90% da população, abrangendo drenagem, resíduos e água”, destacou.

O tema também é norteador das discussões na Funasa, de acordo com Alexandre Motta. “Estamos numa marcha séria nos acontecimentos climáticos. A crise de agora é pior do que a Segunda Guerra: é uma ameaça à existência humana. É um processo irreversível, grave. Porém, não vamos resolver só com tecnologia. Ninguém vai sair sozinho dessa situação. Parte do passado pode nos ajudar no futuro: Saturnino de Brito, por exemplo, nos apresentou soluções que podemos usar à frente”, ilustrou.
Motta frisou o quanto o setor de saneamento é muito sensível à crise climática. “Precisamos resolver situações como essa: quatro milhões de pessoas vivem sem banheiros apropriados. A questão climática é a última fronteira civilizatória”, salientou.
Ele contou que a “Casa do Saneamento”, lançada em Belém, no Pará, em um evento pré-Cop30, com participação da AESabesp, é um dos lugares onde se pensa sobre o assunto. “O setor precisa se unir e buscar recursos financeiros. Isso melhora a qualidade de vida das pessoas. Não temos mais tempo de um debate sério para atingir, inclusive municípios de até 50 mil pessoas. Saneamento é para todos. Os Ministérios da Saúde e das Cidades estão juntos nesta empreitada”, informou.

O especialista Antonio Miranda, por sua vez, destacou a importância do documento com as diretrizes desenvolvidas pela Aesbe com a parceria da AESabesp: “Como a mudança climática tem afetado sobremaneira o mundo, nós entendemos que as diretrizes precisavam ser sistematizadas. Os eventos climáticos têm se sucedido e se comportado diferentemente de anos passados, em um tempo não muito distante. Então, elaboramos este relatório que se encontra em sua terceira edição, em formato de revista, para facilitar a leitura. Neste trabalho, apresentamos os problemas, a fim de buscar soluções, medidas preventivas para as vulnerabilidades, estratégias e impactos. Algumas situações precisam ser pensadas: Manaus, por exemplo, fica embaixo d ‘ água, mesmo na seca porque chove nas cabeceiras dos rios. Como podemos atuar em situações em desequilíbrio?”, questionou.
Ele respondeu que as principais medidas a serem adotadas estão elencadas neste trabalho: “Planejamento e contingência, gestão de recursos hídricos, tecnologia e infraestrutura, ações sociais e comunitárias, parcerias, melhorias em estações de tratamento, adaptação e resiliência a eventos adverso, infraestrutura de apoio e emergência e monitoramento. Foi um levantamento minucioso para abordar todos esses eventos climáticos que vêm acontecendo e apresentar ferramentas para colocar em prática soluções viáveis e disponíveis”, elucidou.


Em sua apresentação, Liliane Cafruni, da Aesbe, que é profissional da Corsan, fez menção aos problemas que tiveram no Sul, no ano passado, e em alguns momentos, em 2025. “Porém, procuramos soluções, como forma de resolução por serviços ambientais, gerando benefícios na melhoria da disponibilidade de água, qualidade e saneamento das águas, e a redução de insumos no tratamento e na geração e destinação de lodos. Fizemos workshops para a população, o que faz parte da nossa agenda. Os eventos extremos estavam na pauta, então passamos a discutir um guia prático. Temos que ter cuidados com os mananciais e nascentes, e na captação direta. A COP30 oportuniza a discussão, precisa trazer recursos. Saneamento também é saúde pública”, declarou.
Para finalizar, Maria Aparecida, da AESabesp, pontuou que o documento elaborado é de grande valia para a questão da crise climática. “Agradeço a participação de todos”.

Bioeconomia e resiliência climática

Encerrando o último dia do 2º Encontro das Universidades, a mesa redonda 6 contemplou o tema “Bioeconomia, Mudanças Climáticas e seus resultados no Saneamento”. Coordenada por Ester Feche Guimarães, diretora Socioambiental e Cultural da AESabesp, a discussão, moderada por Marcela Peixoto Nectoux, diretora de Recursos Hídricos da Semil, abordou como soluções baseadas na natureza e soluções convencionais associadas podem transformar o saneamento, aliando conservação ambiental, adaptação climática e inovação tecnológica. Os palestrantes foram Nelson Lima, diretor no Departamento de Águas e Energia Elétrica da SP Águas; e Maria Cecília Lucchese, professora do Departamento de Construção Civil do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo – IFSP.
Nelson Lima comentou sobre o fato de que vamos buscar água cada vez mais longe. Deste modo, precisamos preservar o que temos. “Não temos profissionais suficientes para saneamento, drenagem, processos. Planos para execução prática são ótimos, se tivermos recursos financeiros melhor ainda; mas não podemos esquecer dos recursos humanos”, comentou.


E Maria Cecília Lucchese, na sequência, observou que a organização setorial tem que ser integrada. “A questão da infraestrutura de saneamento sempre foi problemática. A crise climática é urgente. A água precisa ser retida: a encosta de Bacias pode ser uma alternativa. Mas, a cultura política não alcança porque os conjuntos habitacionais populares estão sendo construídos à moda antiga”, salientou.
Pesquisa aplicada e capacitação

Fazendo um balanço desta 2ª edição do Encontro das Universidades, Ester Feche Guimarães, coordenadora da iniciativa, destacou que os temas foram abordados com maior profundidade, contando com a participação de profissionais de qualificação diversificada.
“No primeiro dia, tratamos do reúso para consumo humano, que envolve diversas questões, não apenas tecnológicas, mas também regulamentos normativos e reguladores específicos, além de um estudo de caso aplicado na Carolina do Norte, cumprindo nosso objetivo de trazer referências técnicas. Já no segundo dia, abordamos a questão dos acordos internacionais que podem impulsionar o saneamento em áreas mais complexas, entre outros temas de fundamental importância para os profissionais e o mercado do setor.
Outros painéis focaram na pesquisa aplicada e na capacitação, dada a necessidade do sanitarista de se manter atualizado e da pesquisa universitária em responder aos desafios atuais do saneamento.
“Também promovemos a discussão sobre as mudanças climáticas e seus impactos na infraestrutura de saneamento, trazendo especialistas em infraestrutura e pesquisa. Foi um painel importante para discutir como vamos lidar com essas significativas alterações que temos observado em nosso histórico climático”, concluiu Ester.
Confira os álbuns de fotos do 36º Encontro Técnico e Fenasan 2025.



